40. Energia potencial

Meu objetivo era, ainda que eu estivesse totalmente debilitado e sem condição alguma de sequer ficar em pé, poder ser um estorvo suficientemente grande para que Éfilo não pudesse prosseguir na direção de meus amigos. Isso ainda por alguns minutos. E eu não consegui lançar um raio nas costas do maldito, não podia nem mover meu braço esquerdo para isso. Por que havia de estar ele à minha esquerda, por que não poderia simplesmente não ter ferido meu braço esquerdo? Assim, aumentava minha ira com a situação, e começava a chorar, e a refletir, nem me lembro do que eu pensava na hora, eu estava quase que numa torcida imbecil que normalmente se tem, quando se grita com uma televisão tentando instruir um atleta, algo assim.

Não esquecendo que tudo isso se passa incrivelmente rápido, eu consegui concentrar-me um pouco. Concentrei a energia como naquele escudo, feito anteriormente. Mas eu permanecia deitado, imóvel, era como se meus ossos estivessem quase todos quebrados. Alguns deveriam estar mesmo, foi uma queda gigantesca, em enorme velocidade e sem nenhuma forma de amortecer o impacto. E sem ninguém para me ajudar. Eu notei que ia concentrando minha energia, e ela ia ganhando altura. Foi então que notei que, de alguma forma, eu não precisaria das mãos para atacar. Eu teria mobilidade com a energia da forma que eu quisesse. Eu tinha muito aquela mentalidade de precisar das mãos para o ataque, ou que o ataque precisava de uma parte específica do corpo para se consolidar, como sempre via nos desenhos, sempre havia uma forma certa de se realizar cada ataque. Mas comecei a praticar tal coisa. Era como se houvesse uma montanha de energia sobre mim, e eu a inclinava para direita, para esquerda. Quando percebi que eu mesmo estava controlando isso de forma um pouco mais precisa, pensei naquele momento que poderia arranjar alguma forma de gastar meu tempo. Naquele exato momento de minha vida, eu estava estudando em uma escola técnica, daquelas que precisam de prova para conseguir ingressar. Minhas primeiras aulas de física propriamente dita foram em um cursinho que fiz para a tal prova. Nessa época eu consegui algumas leves noções de física, nada muito abrangente, específico, mas por alguns dias, semanas, lembro-me apenas que estava em minha cabeça que a energia pode ser dissipada em forma de calor ou em som.

Foi então que o chamei. Um grito normal, pouco antes que ele entrasse na floresta. Nesse momento perdi meus amigos de vista na cidade, com a visão encoberta pelas árvores. Mas eles já pareciam estar chegando ao destino. Colocamos a máquina próxima à região branca por lembrar que, normalmente, as lutas ocorriam no deserto. Mas então, após eu ter gritado, ele parou, mas não se virou para trás. Manteve-se parado até que eu, tendo concentrado um pouco de energia em minha boca, gritei o mesmo ei, mas levando aquela energia até ele, para que, quando a ele chegasse, eu pudesse expandi-la gigantescamente transformando-a em som. Foi um sucesso, eu, que estava tão mais longe dele, sofri com tamanho barulho que havia causado. Engulam essa, físicos! Ele virou-se então para mim, com uma terrível fúria, pondo a mão em seus ouvidos. Veio flutuando lentamente em minha direção. Então, pude ver Jumi, que estava bem distante do local onde seria a máquina. Inteligentemente, ele contou-me posteriormente que Silu o instruíra a distanciar-se de lá para que, encontrando Jumi, o inimigo não pudesse achar também a máquina. Um gênio. Eu adorava esse rapaz. Pois bem, nesse momento em que eu parecia totalmente inofensivo para Éfilo, ele não esperava que eu pudesse realizar um ataque muito significativo. Foi quando realizei o mesmo grito, tentando encobrir minha boca ao chão, mas agora o levando a expandir-se um pouco atrás dele, para tentar distraí-lo. Novamente, consegui e, nesse momento em que ele olhou para trás, muito rapidamente consegui lançar grande quantidade daquele raio que eu havia amontoado, atingindo suas costas e fazendo-o cair, quase da mesma forma que eu estava, mas de costas para mim. Ainda assim, não veio ele com todas as suas forças diante de mim, mas agora ele caminhava, firmando cada um de seus passos, de forma imponente e decidida, decidido a acabar comigo. Sua feição me dava medo, mas eu não podia deixar isso influenciar-me. Eu, a essa altura, já havia planejado tudo. Foi quando comecei eu a discursar. Eu, dessa vez, era raro isso. Então lhe adverti que tivesse uma expectativa maior com relação aos seus adversários. Com isso ele parou de vir em minha direção. Nisso, eu comecei a erguer-me em voo. Não necessitava do meu corpo para isso, só de minha mente. Assim, era como se estivesse flutuando um saco vazio, pois eu movia apenas a minha flutuação, mas meu corpo, em si, estava totalmente parado. Estabeleci novamente o escudo ao meu redor e o deixei um pouco impressionado. Agora eu precisava de mais alguns minutos lutando contra ele. Isso sem utilizar meu corpo.

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